Por Valdeci Gomes no dia em Notícias
O cavalo de corrida é comumente submetido a reações ósseas durante o exercício. As doenças que afetam as canelas atingem cerca de 70 a 80% dos cavalos no seu primeiro ano de treinamento e principalmente, quando treinados em velocidades de prova.
Dentre estas afecções as mais comuns são as dores de canelas, que podem ser as periostites, inflamações do tecido ósseo periférico denominado periósteo; as fraturas por estresse e as exostoses, vulgo sobreossos.
O tecido ósseo, apesar de ser um dos mais duros do corpo, é um tecido vivo e dinâmico. O osso é formado por células ósseas que secretam fibras de colágeno nas quais, subsequentemente, o cálcio será depositado. A unidade funcional do osso é constituída de cilindros orientados longitudinalmente pelo interior dos quais passam vasos sangüíneos e um nervo. Esses cilindros são compostos por camadas concêntricas denominadas lamelas. Embora, de maneira geral, a forma e a estrutura da maioria dos ossos seja geneticamente pré-determinada, a massa, a estrutura tridimensional e as características micro estruturais podem mudar. As mudanças da mecânica ambiental podem ser transformadas em repostas biológicas pelo osso.
São micro lesões que levam a uma reação inflamatória do córtex dorsal ósseo do osso terceiro metacarpiano com deposição óssea irregular nos locais afetados. O processo normal leva a um espessamento ósseo, e quando este processo adaptativo termina, o osso principal da canela se torna resistente a danos futuros. Esta alteração ocorre apenas nos membros anteriores e pode ser diagnosticada em ambos os membros ou em apenas em um.
São causadas caracteristicamente por um aumento repentino na intensidade de trabalho e por excesso de exercícios de galope á velocidade de corrida durante o primeiro ano de treinamento. Durante este período, o terceiro metacarpiano é sujeito a novos e intensos padrões de carga, diferentes daqueles do início do treinamento, onde se exercitam os cavalos apenas a trote e leves galopes. Este aumento de treinamento sobrecarrega o córtex dorsal do osso principal da canela, resultando em inflamação.
De certa maneira, a força e a torção aplicadas sobre os ossos produzem dois estímulos: um no processo de ajustes da arquitetura (mecanismo de adaptação) e outro por meio do comportamento das células das superfícies dos ossos (modelamento e remodelamento), sendo que o processo de remodelamento pode ocorrer nas superfícies externa, interna (canal da medula óssea) e na própria matriz óssea. É de salientar que até os 24 meses de idade a face dorsal do osso terceiro carpiano é mais fina do que a palmar, favorecendo o aparecimento da dor de canelas.
Os sinais são claudicação, diminuição da performance atlética e súbita relutância ao exercício, que melhora com descanso e piora com o trabalho. A claudicação é pior em terrenos duros e varia de leve a moderada entre os animais afetados. Quanto mais o cavalo trota mais ele mostra dor, e sente alívio quando é levado apenas ao passo.
Geralmente não são detectados nem calor nem inchaços. Porém, poderá ser visualizada em alguns casos uma leve distensão da cápsula articular do joelho. Existe também a presença de dor á palpação do membro afetado. Radiologicamente, as lesões não são observáveis durante o estágio inicial, sendo apenas diagnosticadas alterações de imagem típicas da dor de canelas, como extensa linha radioluscente orientada longitudinalmente ao osso principal da canela.
Os fatores que podem contribuir para o surgimento das dores de canela, além das causas já citadas, são o sobrepeso, nutrição inadequada com carência de cálcio e fósforo, idade precoce para início dos treinamentos, e biodinâmica corporal desequilibrada, ou seja, não só os aprumos como também ferrageamento executado de forma errada.
A claudicação se resolve espontaneamente após 10 a 15 dias de descanso. O período de repouso é em média 60 dias, e após inicia-se o exercício a passo, atingindo a normalidade gradativamente de 3 a 4 semanas. A terapia visa o espessamento rápido do córtex ósseo, para que não ocorram recidivas. Tipicamente se utilizam antiinflamatórios e termo terapia nos primeiros dias, seguida de revulsivos como blisters para promover a reagudização e espessamento do córtex ósseo.
Esta afecção atrasa em dois meses o treinamento da maioria dos potros em início de campanha. No entanto, é de fácil resolução e o prognóstico bom para a volta ás corridas. A recidiva ocorre apenas em casos mais graves, onde não houve um diagnóstico preciso, ou o animal ficou submetido ao trabalho contínuo com conseqüente fratura, ou não houve tempo necessário para a recuperação total. Alguns casos necessitam até 110 dias para se recuperarem totalmente. No entanto, os animais tratados nunca mais apresentam os sintomas da afecção.
Dentre alguns métodos preventivos temos a densitometria óssea, capaz de avaliar quando um animal jovem está apto a iniciar seu treinamento para corrida, o radiodiagnóstico, o uso da análise biomecânica e do ferrageamento correto, e o uso de procedimentos de treinamento adaptados ao não surgimento de lesões.
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